Nunca na história da seleção nacional portuguesa houve uma qualificação 100% vitoriosa.
Desde pequenino que sou obrigado a escutar os cálculos matemáticos e as probabilidades de qualificação depois de maus inícios de campanha nessas qualificações para grandes competições, quer seja para Eurocopa quer seja para a Copa do Mundo. Mesmo na chamada geração de ouro, aquela que era composta pelos campeões mundiais de Sub-20 em 1989 (2-0 na final contra a Nigéria) e 1991 (4-2 por pênaltis na final contra o Brasil), havia sempre dificuldades. Mesmo com os extraordinários Vítor Baía, Fernando Couto, Abel Xavier, Rui Costa, Figo, João Pinto, entre outros, Portugal tinha de andar a fazer contas… em 1998, nem sequer conseguiu o apuramento para a Copa do Mundo na França mas aí a responsabilidade é atribuída a um árbitro que conseguiu fazer o inédito. Contra os portugueses, há uma tendência enorme de acontecer coisas inusitadas…
Já vi assinalarem falta ao Vítor Baía como goleiro do Porto (no ano em que a equipe portuguesa venceu Champions) por estar com a bola nas mãos mais do que exatamente 6 segundos. O árbitro foi precioso a contar esses 6 segundos logo no início do jogo contra a Lazio (0-0 em Roma e 4-1 no Porto). Foi a primeira vez que vi isso acontecer e desde então já vi goleiros com as mãos na bola mais de 10 segundos e nunca foram sancionados. Já vi não marcarem um pênalti com mão escandalosa a favor do Benfica contra o Barcelona e logo depois marcarem pênalti contra o Benfica com uma mão menos clara…
Enfim… síndrome de perseguição tuga?! Talvez… mas na Qualificação para a Copa do Mundo de 1998, Portugal estava num grupo bem difícil mas mesmo assim bem perto de se apurar no primeiro lugar, no confronto direto com a Alemanha. Portugal vencia os campeões da Europa em título na sua própria terra, em Berlim, por 1-0 e isso significava o apuramento de Portugal mas mais importante que isso (para o Mundo do futebol) significava a não ida da toda poderosa Alemanha à Copa do Mundo, que só tinha acontecido em 1930 (por não se inscrever) e 1950 (pela ocupação do seu território no pós-II Grande Guerra Mundial). E esse vexame só não aconteceu por intervenção da terceira equipe! Até hoje não me conseguem convencer que a expulsão do Rui Costa foi justa. No momento da sua substituição, caminhando vagarosamente como todos fazem, o “maestro” português foi expulso pelo árbitro. Já se viu coisas bem piores e não se dá cartões amarelos.
Portugal ficou desorientado e a Alemanha empatou logo de seguida o jogo, resultado que dava o apuramento à Alemanha e tirava os portugueses da Copa… Uma injustiça! Mas se o karma existe, essa injustiça talvez tenha sido “paga” depois pela humilhação alemã nos quartos-de-final quando levaram 3-0 da geração de ouro croata.
Exceptuando esse acontecimento, Portugal sempre sentiu dificuldades para se apurar mesmo com grupos que se foram tornando mais fáceis para as grandes seleções. Mesmo aí, as calculadoras e ginásticas mentais sempre nos acompanharam depois de inícios frágeis. E várias vezes só nos apuramos nos playoffs de melhores segundos… E já com o CR7 sendo CR7. Para a Eurocopa de 2016, onde Portugal acabaria de se sagrar campeão, talvez tenha sido o apuramento mais tranquilo até esta última em que fomos 100% vitoriosos. 10 vitórias em 10 jogos, 36 golos marcados e apenas 2 sofridos… Se em 2016, fomos campeões depois da melhor campanha nas qualificatórias até àquela data… Agora com esta super campanha e também com este conjunto de jogadores, temos direito a sonhar novamente?! Obviamente.
Rafa Boban