Após mais uma semana super movimentada, a CBF parece encontrar seu destino para 2024. Atenção ao “parece”. A justiça permitiu que o Ednaldo fosse candidato. A mesma o tirou. A mesma o recolocou. Ou seja, ela pode retirá-lo novamente. Contudo, esportivamente, a Seleção parece ter um norte definido e, dessa vez, em definitivo. Dia 4, o ministro Gilmar Mendes anulou a destituição de Ednaldo. Com isso, no dia 5 ele voltou à sede da entidade máxima do futebol brasileiro, como presidente. De primeira, ele demitiu Fernando Diniz. Dia 6, as conversas com Dorival começaram. Dia 7, o São Paulo anunciou sua saída. Hoje, dia 8, enquanto você lê esse texto, provavelmente ele já foi oficializado como o novo comandante do Brasil. Porém, não é de hoje que seu nome está na pauta. Aliás, para os contrários à vinda de um estrangeiro, desde que o Tite saiu, estabeleceram-se polos. Diniz ou Dorival. Grupos que defendiam lados opostos dessa corda, que, de fato, separa estilos muito opostos, não só taticamente falando, mas também acerca de métodos de trabalho e até do dia a dia.
Em primeiro lugar, é importante que se frise um padrão em que a CBF tem seguido, a respeito da contratação de treinadores, ao menos no Século XXI. Desde que Luiz Felipe Scolari assumiu a seleção em 1 de julho de 2001, vem sendo assim, com uma exceção. Primeiro elemento da lista, a experiência. Felipão tinha 52 anos quando começou o trabalho. Desses, 20 haviam sido dedicados ao trabalho de treinador. Segundo ponto, títulos recentes. Ele foi o treinador que mais venceu na década de 90, atrás do Luxemburgo, que tinha tido sua chance. O que enfatiza esses títulos é a proximidade com a decisão. 2 Libertadores, 1 Brasileiro, Copa dos Campeões, Rio-SP, 3 Copas do Brasil. A maioria após a Copa de 94. A Copa do Brasil com o Criciúma, em 91, diverge. Terceiro ponto, sucesso em São Paulo. Sabemos que a FPF é a principal ordem dentro do futebol brasileiro, desde que figuras como Castor, Caixa d’água e Eurico perderam força. Com isso, Felipão venceu muito com o Palmeiras, dando a primeira Libertadores do time. Campeão em 2002. Passada a Copa, em agosto de 2002, ele sai.
Desse modo, criou-se um caminho. O primeiro, 4o retorno de Parreira. Os retornos têm um tom particular que pode fugir à regra, mas até que o veterano seguiu a cartilha. Tinha seus 60 anos e vinha de bons trabalhos. Reestruturou o Fluminense e preencheu o checklist, sendo campeão com o Corinthians. Copa do Brasil e Rio-SP de 2002. Experiente, títulos antecedendo a contratação e sucesso recente em São Paulo. Sai o Parreira, entra nossa exceção. Uma experiência, podemos dizer. Passado esse período, chegamos ao Mano Menezes. Com 48 anos, possuía 14 dedicados, como treinador. Mas foram nos 5 anos antes da sua contratação que viveu seu auge. Vence a Série B com Grêmio, depois com Corinthians e em 2009 vence a Copa do Brasil com o Timão. Experiente, 4 anos, só mais novo que o Felipão em 2002. Títulos antes do contrato. Sucesso em São Paulo. Porém, é bom que se lembre que foi a segunda opção. 16 anos de trabalho, tricampeão brasileiro nos 5 anos antes do contato(venceu o quarto após a recusa) e, é claro, sucesso em São Paulo. Sai Mano, volta Felipão, volta Dunga, até uma nova chance. 55 anos, mais de 20 como treinador. No Sul venceu a Sul-Americana e a Copa do Brasil. Mas nos 5 anos anteriores ao seu convite viveu seu auge. Bicampeão brasileiro, Libertadores e Mundial. Sucesso em São Paulo, mais uma vez. Tite sai, passam dois interinos. E a bola da vez é Dorival Jr. 61 anos, 22 como treinador. 3 Copas do Brasil e 1 Libertadores. Seu auge, nos anos anteriores ao convite, 2022 e 2023. No último ano, o que faltava. Sucesso em São Paulo.
Ademais, Dorival não é o homem certo apenas por atender um padrão, quase que automatizado, da CBF. Ele possui características particulares, que vão ao encontro da necessidade. Ele tem sido um treinador apagador de incêndio. Mas não aquele apagador de incêndio de time com menos pressão, ou de time que briga para não cair. Tem sido bombeiro de gente grande. Assumiu o Flamengo desorganizado e levou o time à melhor campanha da história da Libertadores em seu novo formato. Campeão invicto. Venceu ainda a Copa do Brasil, única taça que faltava à geração rubro-negra atual. Depois, assumiu um São Paulo sem moral, desacreditado, levou o tricolor a uma conquista inédita. A Copa do Brasil. Ou seja, ele pegou o único time carioca campeão de tudo, em uma crise enorme e, em pouco tempo, levou o título. Depois, ele pegou o único time paulista campeão de tudo, em uma crise enorme e, em pouco tempo, levou o título. A maior seleção do mundo talvez viva sua grande crise no século e precisa melhorar, para que em pouco tempo, já na Copa América, vença o título.
lém disso, Dorival soube administrar os medalhões e dar confiança à garotada. De João Gomes a Rodrigo Nestor. De Gabigol a Lucas Moura. Os jogadores mais experientes foram preservados de forma estratégica. Algo criticado para o longo prazo por alguns torcedores. De fato, ele não tem um título de pontos corridos para chamar de seu na elite. Venceu a segunda divisão com o Vasco. Mas nas Copas se mostra um especialista e é isso que precisamos. Ou a grande crítica ao Tite não é o fato de ser extremamente regular, mas não ser decisivo? Para Seleção, é isso que importa. Outra questão foi saber manter todo o elenco integrado ao projeto. As mesclas e os rodízios proporcionaram uma integridade maior aos seus grupos, de forma que todos estavam prontos para jogar. E o grand finale, só ele conseguiu acomodar Pedro e Gabriel juntos, manter o time equilibrado e pronto para decidir. Estrangeiros, Renato Gaúcho, Ceni e até o Tite, foram incapazes. Vamos à seleção, hoje possuímos veteranos em queda, Marquinhos, Casemiro e Neymar, por exemplo. Temos jovens que se escondem em jogo grande na seleção, Vini e Rodrygo são os caras no Real Madrid, mas se apequenaram até hoje nos momentos decisivos. Por fim, ele terá o maior e melhor plantel do mundo, para manter unido em prol do Hexa e, até nesse sentido, o que mais um treinador de seleção precisa fazer que acomodar o máximo de craques em um time, mantendo-o equilibrado e pronto para vencer?
Sob esse viés, Dorival é o nome ideal. Ele segue a cartilha da CBF, ele se mostrou pronto para resolver nossos principais problemas. Mas fujo da regra e, nessa conclusão, apresento um elemento novo. Apenas uma questão estilística. Ele é diferente. Felipão, Tite, Mano, Parreira, entre poucos fracassos e muitos sucessos, sempre estabeleceram a solidez defensiva como meta primária. Dorival gosta de atacar. Mas não é nenhum revolucionário também, não exige tanto como o trabalho do Diniz. São ideias simples, mas muito bem desenvolvidas. Tão bem que se tornam complexas. A propósito, banalizou-se essa história de que ele só faz o feijão com arroz. Pergunte a um chef de cozinha se é tão simples um feijão perfeito. Um arroz perfeito. A harmonia perfeita entre os dois. Não precisa tanto, todo feijão com arroz que você comeu era igual? Ou sua memória afetiva leva ao melhor. Ele está no seu coração. Você sabe onde está. Afinal, o prato mais tipicamente brasileiro não é o tal feijão com arroz. Quem sabe, para resgatar nossa brasilidade, não precisemos retornar a ele. O bom e velho feijão com arroz. O bom e velho futebol brasileiro.
Guilherme Presunto.
Presunto entende muito