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Parem com os tempos de compensação absurdos!

As primeiras rodadas da Liga Bwin (I Liga Portuguesa) foram marcadas por tempos de compensação absurdos. Não é um fenômeno estritamente português porque até se tem assistido por todo o mundo depois das recomendações da IFAB (International Football Association Board) na luta contra o antijogo.

Lutar contra o antijogo é uma luta nobre, mas será que o aumento dos tempos de compensação tem realmente tido os resultados desejados?

Em Portugal, não!

Em primeiro lugar, convém mencionar que a ideia por trás deste fenômeno se baseia em penalizar quem comete antijogo e normalmente quem comete antijogo são os times mais pequenos de forma a “sobreviverem” perante diferenças gigantes para os mais poderosos. Em Portugal, onde as diferenças orçamentais chegam a ser de 15 vezes entre clubes que disputam a Liga Bwin, é de certa forma natural compreender que haja antijogo e o tempo útil de jogo tenha níveis embaraçadores, já há bastante tempo. É nesse contexto que facilmente percebemos que na presente época temos uma média de tempo “extra” a rondar os 14 minutos, mais 5 minutos do que a média de tempo extra de toda a temporada passada, onde na segunda volta, pós Mundial do Qatar, já se começou a aplicar este tipo de tempos de compensação com mais frequência. No top 5 de jogos com mais compensação, temos:

1.º – FC Porto-Arouca 25 minutos
2.º – FC Porto-Farense 21 minutos
3.º – Casa Pia-Sporting 19 minutos
4.º – Rio Ave-Chaves 19 minutos
5.º – Benfica-Boavista 18 minutos
6.º – Arouca-Estoril 18 minutos

O que não se esperava é que aumentando o tempo de compensação, o tempo de jogo útil em termos absolutos se mantivesse praticamente inalterado, diminuindo logicamente em termos de percentagem e isso já dá uma machadada completa na premissa teórica. Veja-se o exemplo do FC Porto, que tem os dois jogos com maior tempo de compensação da temporada e que passou de 32 para 70 minutos de compensação nas primeiras quatro rodadas da Liga Bwin face ao mesmo período de 2022/23. Um aumento de 54,3%!
Foi nestes períodos de compensação absurdos que o Porto conseguiu ganhar já 6 importantes pontos, o que levou à criação de memes em que se vê o 4º árbitro levantar uma placa onde os habituais números são substituídos pela frase “Até o FC Porto marcar”… Mas ao mesmo tempo que viu o tempo de jogo corrido aumentar, o Porto viu o tempo útil de jogo descer de 54,5% para 51,1% (face à 22/23) nos seus jogos. E isso aconteceu praticamente em todas as partidas já disputadas da Liga Bwin esta época. Como tal, o aumento dos tempos de compensação não teve os resultados esperados e, embora teoricamente beneficiasse os mais poderosos, até os poderosos estão contra estas novas regras da IFAB.
Pep Guardiola é um dos mais críticos e percebo-o bem! Aumentar os tempos de jogo em temporadas onde os grandes times disputam mais de 50 partidas é uma insanidade e um castigo, especialmente para os médios e laterais, tradicionalmente os que mais correm durante um jogo.

Imagine que eu me estou preparando para correr uma corrida de 10 km. E que no dia da prova, quando chego aos 10 km, descubro que ainda falta 2 km… Eu que estava a gerir todo o meu esforço para os 10 km, certamente não terei condições de continuar no mesmo ritmo. Ou abrando (as reservas de energia vão me obrigar a abrandar mesmo eu não querendo) ou paro. E é isto que se vê nos jogos: dá-se mais tempo de jogo, mas perde-se a intensidade e a qualidade.

A UEFA já fez as suas previsões e estima que no final da temporada os clubes tenham em média 500 minutos de tempo de compensação, ou seja, o equivalente a praticamente 6 jogos! É uma loucura! E já garantiu que nas suas competições (Liga dos Campeões, Liga Europa, Liga Conferência) não haverá lugar para tempos de compensação absurdos a fim de preservar a integridade física dos jogadores.

Que se tenha a mesma sensibilidade em Portugal… até porque os grandes times portugueses estão a disputar competições europeias e aí há times bem maiores, não sendo desejável jogar contra eles já com a corda ao pescoço antes da partida. Óbvio que há substituições e deve haver gestão/rotação de plantel… mas olhando para os vários times da Liga dos Campeões, estes tempos de compensação vão beneficiar muitíssimo os grandes, com plantéis com maior profundidade, onde as substituições geralmente não significam uma notória perda de qualidade. E o que é que fazem os clubes menores para tentar igualar as condições? Recorrem a mais antijogo e isso apresenta-se como um ciclo vicioso sem fim… Mais tempo de compensação. Mais disparidade. Mais lesões. Mais desequilíbrio. Mais antijogo…

Por isso, só me resta um pedido. Vá lá… Parem com os tempos de compensação absurdos!

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