No dia 18 de fevereiro o Benfica goleou em casa o Vizela por 6-1.
João Neves, menino prodígio de 19 anos, estava em campo nesse jogo quando a sua mãe entrou no hospital com febre. Horas mais tarde, a sua mãe acabou por morrer com uma infeção generalizada após ter sido operada de urgência a um tumor. Tinha apenas 50 anos e lutava há três meses contra um cancro raro no útero…
Sabe-se que todos os dias, depois do treino, João Neves ligava a duas pessoas: ao pai e à mãe. Aos 19 anos, João Neves passa a ter apenas uma pessoa a quem ligar depois do treino. O pior golpe que a vida podia dar a qualquer jovem, acabou de ser dada a um jovem que, pelo seu talento, caráter, humildade e benfiquismo, é já o principal ídolo em “atividade” do clube da Luz.
Um dia que deveria ser recordado com um dia feliz, de uma goleada pouca habitual no futebol português, vai ser lembrado pela pior razão para sempre.
HÁ DIAS QUE O FUTEBOL SALVA
“Manter as rotinas! Não se trancar em casa! Não se afastar das pessoas!” são conselhos sabiamente dirigidos a quem tem estas perdas abruptas, mas difíceis de processar na prática. Há que viver o luto e o luto é diferente para cada um dos vários milhões que nós somos.
A verdade é que nunca estamos preparados para nos “despedirmos” dos que mais amamos e fazê-lo numa idade tão nova como a do João Neves é ainda mais difícil de aceitar. Mas infelizmente a vida não para, a vida encarrega-nos de fazer aceitar (a bem ou a mal), e temos de seguir em frente.
Cristiano Ronaldo sofreu semelhante drama aos 20 anos. Não foi a mãe que ele perdeu, foi o pai. Com quem ele não tinha uma relação próxima dado o alcoolismo do pai que profetizou várias vezes que o seu filho seria o melhor jogador do mundo.
Quando o pai de Cristiano morreu, Cristiano estava em estágio com a seleção portuguesa, um dia antes de jogar contra a Rússia, de apuramento para o Mundial de 2006. A difícil notícia foi dada pelo Luiz Filipe Scolari, então selecionador de Portugal, e Cristiano pediu para jogar no dia seguinte dizendo que “Não posso fazer nada pelo meu pai hoje, então vou jogar amanhã e depois vou embora” e aí entrou aquela mentalidade da aceitação e muita força física para não se abalar com a emocional pesada. E não digam que não sofreu porque sofreu e ainda sofre atualmente! Basta ver qualquer entrevista em que é pedido para falar do pai: as lágrimas caem…
No caso de João Neves voltei a ver essa mentalidade de seguir em frente apesar do sofrimento. A sua mãe foi cremada na terça-feira e viajou até Toulouse (França), onde estava em jogo a qualificação do Benfica para a fase seguinte da Liga Europa.
O treinador colocou-lhe nas mãos a decisão de jogar. João quis jogar. Durante toda a partida, João Neves dedicou-se com a mesma entrega e paixão de sempre e foi uma mistura de sentimentos para todos os que testemunharam tal performance que apurou o Benfica para a fase seguinte… Quando soou o apito final, João Neves certamente arrepiou-se com o incrível apoio dos torcedores… Aí ele não se conteve e as lágrimas caíram.
Há dias que o futebol não interessa para nada mas há dias que salva. Salva quem está vivo e a sofrer… E não é desrespeito com os mortos porque esses deixam em nós um vazio irreparável e impossível de compensar. Mas o futebol teve e tem o poder de confortar o coração de Cristiano Ronaldo e de João Neves nos piores momentos, com as demonstrações de afeto e carinho de milhares e milhares de pessoas… apoio esse que alimenta o espirito e a alma e nos auxilia a seguir em frente!