Hoje o Fluminense enfrenta a equipe do Al Ahly pela semifinal do Mundial de Clubes. A expectativa
é de uma partida complicada, apesar do tom de favoritismo que o Fluminense carrega. Contudo, esse
texto não é sobre o jogo do tricolor, mas sim uma reflexão sobre o adversário. Isso porque, plantou-se
uma ideia em que o representante da América do Sul já tinha adversário definido. A opinião pública
preparou um terreno para um embate contra o Al-Ittihad. Até certo ponto é compreensível, devido ao
investimento feito e, a presença de alguns atletas de alto nível, em um padrão europeu. Mas não se
falava nos árabes serem favoritos. Eles já eram colocados como classificados. Movimento parecido ao
que se construiu dos brasileiros já terem vaga na final. As coisas mudaram para o nosso lado nos
últimos anos, mas os egípcios terem sucesso não é nenhuma novidade.
“Mostra esse Egito pra mim”. Em primeira análise, em resposta a célebre frase de Compadre
Washington, não o coração valente, nem o do Casal 20, o do É o Tchan, vamos mostrar um pouco do
Egito no futebol. De fato, “Os faraós”, como é alcunhada a seleção do país, não possui grande sucesso
na Copa do Mundo, o que não se trata de um reflexo da vida continental. A Taça das Nações
Africanas é o grande torneio da África e a maior equipe da história da competição é o Egito. Com 7
taças erguidas, é a seleção mais vitoriosa. A heptacampeã é seguida por Camarões com 5 títulos. Além
disso, esteve 16 vezes entre as 4 melhores, em um total de 33 edições da disputa. Dessa forma, o Egito
é o grande e, por vezes, isolado, representante do Norte da África e, consequentemente, da parcela
islâmica do continente. Se na África Ocidental, Gana, Nigéria, Senegal e Costa do Marfim sempre
dividiram o protagonismo, com 10 conquistas bem distribuídas e diversos craques, no Norte, o Egito é
quem construiu um legado, quase como um cavaleiro solitário. 7 dos 11 troféus, que fazem da UNAF
a mais dominante federação regional. Ademais, é o país responsável pelo primeiro gol africano em
Copas do Mundo e tem uma das primeiras vitórias impactantes da África contra os europeus, ao
vencer a atual campeã do mundo, Itália, na Copa das Confederações de 2009. Com todo esse
histórico, foi fundamental para o desenvolvimento das rivais locais. Hoje, Marrocos e Argélia são as
grandes forças da região no futebol de seleções.
No entanto, quando olhamos para essas outras seleções, Marrocos, Argélia, Senegal, Gana, Nigéria e
Camarões, por exemplo, observamos no máximo 1 atleta atuando na África(com base na última Data
Fifa de 2023). A verdade é que quase todos estão na Europa e, cada uma tem, na média, dois atuando
no Catar, ou na Arábia Saudita. O Egito não. Pode ser que isso signifique um menor nível da seleção
em relação às outras? Provavelmente. A não presença na última Copa, porém, não tem conexão com
isso. A seleção fez uma qualificatória invicta, mas os moldes da Confederação não são os mais justos,
pelo menos para mim. São 10 grupos, os líderes passam e de forma indiscriminada há um sorteio.
Então, as duas melhores seleções do continente poderiam se enfrentar. Foi exatamente o que ocorreu,
em teoria. As duas atuais finalistas da Copa do continente, enfrentaram-se por uma vaga. Nos pênaltis,
deu Senegal, de novo. Independente disso, a questão é que o Egito tem uma base em casa. Isso pode
proporcionar um melhor entrosamento, aplicação metodológica mais ampla, além de maleabilidade
com as datas. E claro, isso faz de sua liga local, mais forte que as demais. Somente 4 jogadores de fora
do país foram convocados na lista mais recente. Todos atuam na Inglaterra. Salah e Elneny, de
Liverpool e Arsenal, respectivamente, são os grandes destaques.
Assim, é natural que os grandes craques estejam na Europa, mas faz bem ao Egito que sua espinha
dorsal esteja por perto e se encontre mais no dia-dia. Fazendo uma mistura do Brasil com o Egito, são
evidentes os motivos para nossa seleção ser majoritariamente “europeia”, mas é fato também que as
cinco estrelas foram conquistadas por times, mais da metade atuantes no Brasil. Entre 94 e 2002,
inclusive, tivemos em 98 uma seleção mais de 50% situada na Europa e perdemos. Voltando a “tá de
olho no Califa”, 10 jogadores do Al-Ahly fazem parte da atual seleção do Egito. Ou seja, a base do
time forma a seleção que faz jogos duríssimos com as “europeias” Senegal, Marrocos, entre outras. O
adversário Arabe era parecido, Fabinho, Kante, Benzema(os que vieram da Europa), além de
Coronado e Romarinho. De resto, um time abaixo do nível egicipio. Não foi nenhuma novidade para
eles. o Al-Ahly foi senhor da partida na totalidade. Dominou cada aspecto do esporte bretão.
Controlou do primeiro ao último minuto. Desse jeito, a vitória foi conquistada, de maneira
rigorosamente justa e, acima de tudo, segura.
Portanto, parece um pouco precipitado e talvez até preconceituoso acreditar que os africanos não
representam uma ameaça. A história já nos provou o contrário. Não é adequado duvidar do segundo
maior participante do mundial. Tanto estiveram lá por uma razão: competência. Como resultado, são
grandes conhecedores dos caminhos dos jogos. Nenhuma equipe tem 11 títulos da “Champions” de
seu continente, de graça (Nenhum outro clube é mais que hexacampeão). Continente que teve o
mesmo número de semifinalistas que o nosso, somando as duas últimas Copas. Que nos últimos
mundiais venceu o Palmeiras, por exemplo. O time nunca foi rebaixado, feito para pouquíssimos
gigantes pelo mundo. Em 2001 foi eleito o Clube do Século da África. Falando de dinheiro, seu
orçamento de 2023 foi 100 milhões de reais, maior que o projetado pelo Fluminense para o mesmo
período. Todavia, a pedra no sapato deles é o Mundial. Nunca foram finalistas e querem igualar
Mazembe e Raja Casablanca. Todo mundo imaginou a semifinal mais difícil para um brasileiro na
história, porque iria enfrentar um time bilionário. Tomara que o Fluzão continue com essa expectativa,
pois vai duelar contra quem atropelou os temidos árabes. Se bem que a própria jornada de sucesso dos
comandados de Diniz, já provou que dinheiro não é tudo. Foco, pois nessa mistura do Brasil com
Egito, tem que ter charme para jogar bonito.