Nesse último domingo (18), o Botafogo enfrentou o Vasco da Gama, em partida válida pela 9ª rodada do Campeonato Carioca de 2024. No confronto, que ocorreu no Estádio Olímpico Nilton Santos, melhor para os visitantes. Os cruzmaltinos conseguiram uma importante vitória, que se deu com o placar de 4×2. Resultado que colocou os vencedores em quarto lugar, na zona de classificação para a fase final do estadual e empurrou o Glorioso para a quinta colocação. Dessa forma, o time é o único grande de fora das semifinais, momentaneamente. O Nova Iguaçu é quem está junto às outras principais forças do Rio de Janeiro. É bom frisar que, na temporada passada, o Botafogo já foi o único grande a ficar de fora da reta decisiva, contentando-se a disputar a Taça Rio, torneio vencido, mas não comemorado. Com isso, o Fogão precisa despertar e parar de repetir os mesmos erros do traumático ano de 2023, se quiser, de fato, levantar a poeira e dar a volta por cima, tão cantada por sua saudosa e ilustre torcedora, Beth Carvalho, a madrinha do samba.
Em primeira análise, é evidente que aquilo que foi vivido pelo Botafogo no ano passado é histórico. Sim, um vexame, até uma humilhação para seus torcedores. Mas é perda de tempo tentar recusar o peso na história dos acontecimentos ocorridos na hora H do Campeonato Brasileiro, de 2023, que acabou sendo vencido pelo Palmeiras. A maior campanha do primeiro turno, um mesmo jogador sendo eleito craque do mês, nos três primeiros de competição, a melhor defesa, com certa sobra (era a única com um dígito sofrido). Tudo isso somado ao fato de, em mais uma oportunidade, ter aberto 10 pontos, ou mais, para o segundo colocado. Tal contexto é relevante, já que nunca um time havia conquistado tamanha vantagem e, em sequência, perdido. Enfim, todos sabem o que ocorreu. Um conceito determinante para a derrocada apoteótica é o de “virada”. Quando um time sai vencendo e termina derrotado, ou vice-versa. Nas rodadas finais, sem vitória, foram 6 jogos, em que o Fogão começou na frente. Duas derrotas e quatro empates. A manutenção de 60% dos pontos em jogo bastaria para o título. Isso, sem considerar a mais dolorosa derrota para o Campeão. Só a troca simples de resultado, nesse duelo, já igualaria a pontuação final de ambos. O time começava bem, em todos os sentidos, técnicos, táticos e físicos, e misteriosamente se dava o início da queda de desempenho, nos mesmos fatores. Pode-se considerar o valor da questão emocional, pois se tratava de um time nitidamente fraco psicologicamente. O despertar da queda podia, assim, ocorrer a partir do primeiro gol feito pelo time adversário. Independente do tamanho da vantagem que se tinha no placar. Todavia, trazendo para uma realidade mais palpável, é inegável o desmanche das melhores condições físicas do grupo. Foram 6 gols sofridos nos 5 minutos finais (ou acréscimos), em uma sequência de 7 jogos. Era a mente contra o corpo e o corpo contra a mente.
Ademais, parece que os traumas seguem vivos para 2024. Há uma movimentação da torcida e até interna no clube, para esquecer a todo custo o que passou na temporada passada. Porém, isso fica apenas no desejo. Seria negar a realidade, dolorosa, mas factual, de que o ocorrido foi histórico. Desse jeito, a partir de uma dialética materialista, tem que se aceitar que cada momento vivido vai ser fator determinante para as andanças alvinegras no
presente e, naturalmente, no breve futuro. O Botafogo vitorioso é a nossa tese, o vexame, sua antítese, a síntese disso, é um time capaz de vencer, mas atormentado pelo medo do vexame. Como resultado, desenvolve-se em campo, até dado momento, um desempenho positivo, até a ativação de certos gatilhos que apontam para a derrota. Há quem defenda que a solução seria se livrar de todos os jogadores que fizeram parte do grupo. Pois qualquer memória daquilo faz mal ao ambiente. Não concordo, em plenitude. De maneira alguma, é possível assistir ao jogo de ontem e acreditar que a solução para vencer seria o Eduardo não ter jogado. Ou ainda, que o Tchê Tchê não pode continuar. Até o Tiquinho, que é, para muitos, a personificação do 2023. Há no mercado opções acessíveis, melhores que ele? Sempre é bom lembrar que ele se lesionou contra o Cruzeiro e, a partir dali, nem ele, nem o Botafogo, foram os mesmos. Para outros, o problema está no treinador. Não enxergam em Tiago Nunes, costas largas o suficiente para recuperar o emocional de um grupo abatido. O fato é que o ano mal começou e o time já abriu 2×0 e empatou com o Nova Iguaçu, 1×0 e empatou com a Portuguesa e 1×0 e perdeu para o Vasco.
Em suma, a história não nos permite fugir dela. Sempre um fato, cisma, uma revolução, vai gerar mudanças profundas no amanhã de uma sociedade ou de um grupo. A tentativa de simplesmente esquecer, apagar, será eternamente frustrada. O caminho, contudo, não é renunciar a quem participou dessa história. Usar o que se sabe, o que foi feito, para fazer diferente. Isso sim! Não é vergonha tentar de novo. Dessa vez, não estarão começando do zero, mas trarão a experiência do que deu certo e do que deu errado. Tirar a pressão, esconder-se pode ser um caminho para alguns jogadores. Segurar um pouco para depois deslanchar. Um passo para trás, depois dois para frente. Só não podem ser todos. O Botafogo é uma terra de jogador grande. Jogadores grandes crescem nessas horas. A hora é de botar fogo.
Guilherme Presunto | @guilhermepresunto_