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Centenário de milhões!


Hoje (22) viveremos o último Clássico dos Milhões da temporada 2023. O detalhe é que
nesse ano se comemora o centenário do primeiro duelo entre Flamengo e Vasco da Gama.
Isso considerando o futebol, já que no remo a rivalidade começou bem antes. E, passado
todo esse tempo, chegou a esportes como basquete, natação, voleibol, judô, futebol de
areia e futebol americano. As finais, do Campeonato Nacional de Basquete Masculino de
2000 e do Campeonato Brasileiro de Clubes de Futebol de Areia de 2019, ambos vencidos
pelo Vasco; e da Superliga Brasileira de Voleibol Feminino de 2000–01, vencida pelo
Flamengo, fizeram os amantes da modalidade bretã, olhar para outros campos. Voltando ao
gramado verde, no momento que celebramos 100 anos do primeiro duelo, apresenta-se
uma vitória para o cruzmaltino e três para o rubro-negro. O último, inclusive, vem
dominando o cenário nos últimos tempos. Todavia, quando tudo começou, na Rua
Paysandu, em 1923, os Camisas Negras dominaram. Na primeira grande virada do time da
virada, Negrito e companhia comandaram o gigante rumo ao título carioca. O 3×1 do
primeiro turno foi um marco de um time histórico. Tal grupo, só não foi campeão invicto, pois
perdeu justamente para o time da Gávea no returno. Assim, pode-se resumir, talvez, essa
história. Períodos de dominância sempre existiram. Recortes de desequilíbrio. Mas nunca,
um Vasco e Flamengo foi vencido antes do jogo acabar.
Em primeira análise, o futebol é sobre paixão. Sentimento puramente humano. Algo que,
em tempos de inteligência artificial, não se reproduz de forma automatizada. Tem que ser
paixão por paixão. Uma a uma. Cada qual do seu modo. E por isso, o Clássico dos Milhões
pode ser considerado o grande clássico. Com seus “milhões” espalhados pelo Brasil.
Norte-sul. Norte-sul. São tantos apaixonados. Ou seja, é tanto futebol. Quase que
impregnado. No dia-dia. Qual clássico rende brincadeira na cidadezinha do sertão
nordestino e na cidadela manauara? Em qualquer cidade do país. Lá estará um
flamenguista. E com ele um vascaíno. Desde pequenos, esses corações infantis, vão entrar
na maior empreitada argumentativa de suas curtas vidas, para defender o pavilhão, pelo
qual vivem. Desse modo, se no micro podemos teorizar o amor. No macro, deve-se
apresentar os fatos. Esse é o confronto futebolístico que mais aparece com públicos acima
de 100 mil pessoas na história do futebol. Que fique claro, a nível mundial. Além do maior
público da história do querido Campeonato Brasileiro. Torneio esse, que nunca nos deu uma
final entre eles. Mas alguns encontros no meio do caminho. 1983, 92 e 97. Três títulos que
ficaram entre eles. Não há, afinal, motivação maior que vencer um Clássico dos Milhões. Já
diria o saudoso Eurico Miranda. É um campeonato a parte. Foram 40 mil ovos de páscoa. O
chocolate do Vasco na Taça Guanabara de 2000. 30 mil litros de chope. Mas o Flamengo
encheu de água. Em 2004, gritos de “é campeão” e “arerê o chope do Eurico vou beber”.
Falei que não se deve cantar vitória antes da hora em Vasco e Flamengo. Isso não se faz.
Depois do jogo, vale até distribuir cocada no centro do Rio. Mas, anteriormente, o caçador
de marajás pode cobrar.
Contudo, apesar da imprevisibilidade de um jogo como esse, os bastidores podem tirar o
equilíbrio da balança. Ainda que na década de 80, a Era de Ouro do Mengão, tenha sido o
Vascão o maior acumulador de resultados positivos no clássico. Perdão pelo uso excessivo
da palavra “clássico”. Não vou apresentar um “derby”. Isso é coisa para gringo e paulista.
Carioca joga clássico. Muitoxx clássicoxx. Esse texto é repleto de influências da Cidade
Maravilhosa. Do “Mengo tengo no meu quengo é só Flamengo”, da Estácio. Ao “Vamos
vibrar meu povão”, a cada gol do Vasco, da Tijuca. De Uma Festa Profana, da Ilha do
Governador. Ao time da virada, time do amor, inspirado na Beija-flor. Não se pode fugir
disso. Contudo, saímos dos pavilhões. Voltamos aos bandeirões. O jogo sempre esteve e
sempre estará em aberto. Mas não há rivalidade entre boas gestões e más. É impossível,
ou quase, batalhar, sob condições tão desiguais. O Vasco até tentou. Venceu algumas
batalhas. Mas sucumbiu na guerra. O Fla tem 25 vitórias a mais. Dessas, 12 nos últimos
sete anos. 14×2 em taças na década que se passou. No Carioca de 2021 e no desse ano o
Vasco deu lampejos que o “respeito voltou”. O problema dessa frase, no entanto, é que tal
admiração e zelo, que o Vasco deseja ter dos outros e, deve, passou longe de existir em
São Januário. Não de parte do seu torcedor. Nunca abandonou. O sentimento, de fato,
nunca parou. Nem chegou perto. Por mais que tenham tentado derrubar, de dentro, tão
honrosos lemas cruzmaltinos. Tudo isso acontecia, enquanto gestões profissionais
ergueram novamente o Flamengo. Méritos totais a um clube que soube sofrer, na mesma
proporção que os outros esbanjam. Fruto plantado. Fruto colhido.
Entretanto, o Vasco é para quem acredita. E alguns gringos tiveram que acreditar. O Vasco
investiu mais de 100 milhões. Não bastou. Um hermano precisou vir. E Ramón Diaz vem
recuperando o Vasco. 100 anos depois do uruguaio Platero trocar o Flamengo pelo Vasco e
vencer com o time de negros e operários, o primeiro clássico. Do outro lado da moeda, um
precisou ir. E das mãos de um treinador da seleção a moral do malvado Flamengo volta. Em
suma, time com expectativa alta para viver um ano importante de sua história. Muito
investimento feito. Decepção. Protesto da torcida. Novo professor muda o astral e faz com
que se viva uma nova fase anímica. Economizadas as palavras, falei de ambos com as
mesmas. A verdade é que a história do Clássico dos Milhões é a história de Flamengo e
Vasco. Nos mais díspares momentos de emoção, uniu-os por 90 minutos. A propósito,
como medir o amor de alguém? No amar sem medidas não há lógica. Mas, assim, acredito
no que digo. Espero no Maracanã o Clássico dos Milhões mais equilibrado, realmente, em
muito tempo. Que Bob olhe por nós lá de cima e que Zico, assista conosco daqui. E mais do
que nunca, a amizade das duas lendas, nutra com talento o campo, e com gentileza as
arquibancadas.

Guilherme Presunto | @guilhermepresunto_

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One thought on “Centenário de milhões!

  1. Diego Rodrigo says:

    Presunto… que texto … parabéns…

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