Só em 2023, Tiago Carpini pegou um time que nas cinco primeiras rodadas do Campeonato Paulista parecia ser a pior equipe do torneio, flertando seriamente com o rebaixamento para a Série A-2, e a transformou em finalista do Paulistão. Quando chegou a Caxias logo depois para dirigir o Juventude que brigava para não cair, ele levou a equipe gaúcha de volta à Série A do Brasileirão.
Não é pouca coisa. É muita. Com pouco investimento, não necessariamente muito estrutura, mas com bom futebol e ótimos e rápidos resultados. Vale a aposta do São Paulo para substituir Dorival Júnior que foi para a Seleção.
Claro que é muito jovem. Mas também ambicioso. Muito esforçado e estudioso. E qualquer nome em qualquer momento vai ser sempre uma aposta. O maior da história do São Paulo, Telê Santana, foi derrubado pelo próprio elenco tricolor quando assumiu o time pela primeira vez, em 1973. Quando voltou em 1990 ao Morumbi, tinha absurda fama de pé-frio. No mesmo campeonato, já foi vice-campeão nacional. No ano seguinte, ganhou um Brasileiro. Menos de um ano, quase foi derrubado por grande parte do elenco. A direção do clube segurou Telê. Em menos de dois meses, ganhou a primeira Libertadores. Seria mais uma na galeria. E mais dois mundiais.
Quando Pep Guardiola, o Pelé dos bancos, assumiu o Barcelona em 2008, ele disse ao presidente do clube que ele não teria coragem de deixar Guardiola assumir a equipe. Não só teve. Como terminou aquele ano com seis canecos na rica galeria blaugrana.
Carpini é uma aposta. Como seria se chegasse agora ao São Paulo o Pep Guardiola. Como se pudesse voltar Telê Santana.
E que não se julgue apressadamente a escolha de Carpini. Um chamado para dirigir o São Paulo em qualquer idade e tempo é sempre uma honra. Difícil dizer não. E a carreira de uma pessoa depende apenas dela. Ele chega ainda no início de temporada, com um bom elenco, depois de um grande trabalho de um treinador que, por causa dele, também chegou a Seleção.. Carpini não precisa fazer no Morumbi o que brilhantemente fez com o Juventude. É dar continuidade a um trabalho.
E só ele sabe o que vai ser. Pra falar a verdade, nem ele sabe.
Escolhas são sempre muito complexas. E devem ser sempre entendidas e respeitadas, até quando absurdas. Você pode querer ser o maior nome de um clube de menor investimento, ou pode querer ser mais um nome em um clube de enorme história.
Isso é de cada um, e de cada momento.
Jamais vou cobrar treinadores que eventualmente deixam um trabalho no meio ou no começo, ainda mais quando aceitam propostas de um São Paulo. Eu mesmo já troquei várias vezes de emissoras e de veículos. Dependendo das circunstâncias. Já não aceitei propostas profissionais e financeiras melhores para ficar mais próximo da família. Já não aceitei desafios maiores para ficar próximos de amigos e colegas. Já quebrei a cara, já acertei muito quando muita gente achava que não era o caso. Mas, dando certo ou errado, quem vai pagar as contas é quem assina o boleto.
É uma aposta de Carpini e do São Paulo. É muito boa.
Mauro Beting | @maurobetingoficial