É indiscutível que a história do futebol está interligada aos fatos políticos, que correm em nossas memórias. Das influências ao pão e circo, o esporte, como elemento cultural, nunca esteve alheio às forças ocultas que movem nossa pátria mãe. Contudo, o objetivo desse texto não é falar sobre questões de natureza externa. E nem de história. O assunto é rigorosamente atual e vai dentro da Confederação Brasileira de Futebol. Como funciona o jogo político em uma instituição que, em teoria, tem como sua única função básica, a promoção do esporte bretão em terras tupiniquins. Contudo,
sabe-se como funciona na prática. O negócio “futebol” fica entre canetas e canetas. Dos dribles plásticos que consagram os jogadores e seus times às assinaturas que decidem os rumos e até quem é campeão ou não.
Em primeira análise, é sempre bom frisar, as canetas andam juntas. Assim, certamente a situação de bastidores passa pelo campo. A Seleção Brasileira vive um ano terrível. São mais derrotas que vitórias. Houve, de fato, muita lentidão para se tomar uma decisão a respeito da transição de treinadores. Em um cenário em que o Tite já havia anunciado sua descontinuidade muito antes da Copa de 2022 ocorrer. Primeiro se atacou um interino. Depois um trabalho dividido. Eliminatórias trágicas até aqui. Soma-se a isso o calendário dos clubes. A dificuldade em se antecipar a agenda e seus práticos desmembramentos, além das rotineiras mudanças de cronograma dos duelos. De fato, são situações complexas. A origem vem do futebol para esses problemas. Tais inviabilidades mais populares, mais palpáveis a massa, são os motores que permitem uma manobra, com força do brasileiro médio, para uma desarticulação do comando de Ednaldo Rodrigues, atual presidente da CBF. Esses motivos são os que transparecem aos torcedores. A seleção é ruim. O Calendário é ruim. Precisamos mudar o mandatário. Realmente, há muitos erros nesse sentido. Existem muitos acertos também. É inegável o esforço para a realização das divisões inferiores. Profissionalização da marca. Captação de recursos para as premiações. Estruturação do futebol feminino. Mas o ponto é, os erros e acertos não contam para os homens das canetas, caneta objeto.
Desse modo, é importante um entendimento pleno de como funciona a CBF. Ao menos como se compõem as suas prateleiras. O Ednaldo todo mundo já conhece, mas por trás dos holofotes existe um Conselho de Administração. A chapa eleita foi a “Pacificação e Purificação do Futebol Brasileiro”. Os nomes sempre são poéticos. Raramente literais. Nessa, a formação é constituída por oito homens. São eles: Antônio Aquino Lopes, Fernando Sarney, Francisco Noveletto, Hélio Cury, Marcus Vicente, Reinaldo Carneiro Bastos, Roberto Góes e Rubens Lopes. E o que há de relevante na composição?
Dos oito, cinco fazem oposição ao atual mandatário. O último nome é aquele que mais se destaca nesse sentido. Rubens Lopes, o Rubinho. Ele é presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro desde 2006. Já naquele ano, ocorreu um pedido de prisão do Ministério Público para ele. O motivo? A criação das famosas seletivas para o Cariocão, extintas em 2022. Para muitos, a intenção era subir o Bangu, time que Rubinho, não só foi Presidente, mas também se tornou o “sucessor de Castor”. 4 times da série b, subiriam para a primeira divisão. Tudo ficou ainda mais nebuloso, quando no último jogo, em Moça Bonita, a equipe da Zona Oeste perdia para o Macaé, o juiz deu 6 minutos de acréscimos, sem fundamento, e marcou um pênalti na volta final do ponteiro, por absolutamente nada. Uma matada no peito clara, que ele viu mão. Até os banguenses presentes cantaram “o Castor ressuscitou”. Enfim, o clube que havia sido rebaixado no ano de seu centenário, 2004, acabou não subindo, já que a seletiva foi desconsiderada pela justiça.
Voltando para 2023, Rubinho recentemente disse que Ednaldo planejava um “genocídio ao futebol brasileiro”. Trata-se do desejo do mandatário em diminuir as datas dos estaduais. Por isso, toda essa volta. Nesse assunto está o verdadeiro motivo da instabilidade política. Lembra-se que na votação para presidente são 27 federações votando, com peso 3. Ou seja, 81 votos. Os 20 clubes da primeira divisão têm peso 2, 40 votos. Os da segundona, peso 1. Como resultado, apenas 60 votos para os clubes e 81 para as federações. Por isso, os estaduais resistem sob moldes desproporcionais. Para 2024 serão 16 datas. Sabe quando vai se encontrar uma resolução positiva para os 40 clubes da elite? Nunca é uma palavra forte, mas nem tão cedo. Se um Presidente faz isso que o Ednaldo deseja, ele perde as federações. Automaticamente, o mandato acaba. Muitas decisões são feitas para agradar às unidades federativas. A maioria, na verdade. Por exemplo, a assinatura da unificação dos torneios
pré-Brasileirão. Foi feito em um mês em que Ricardo Teixeira recebeu muitas acusações de corrupção. Em ano de eleição de Clube dos 13. Pode ter certeza, não foi para dar justiça a competições antigas. Há títulos conquistados em dois jogos, equiparados ao Brasileirão. Não há linearidade lógica. A propósito, Ricardo Teixeira foi banido do futebol pela FIFA. Assim como Del Nero. E também, Marin. Uma boa sequência de presidentes. Os dois últimos, confessaram subornos, que teriam ocorrido entre 1991 e 2013. Fraude e lavagem de dinheiro, além de formarem uma organização criminosa. Teixeira teve crimes de corrupção comprovados de 2006 a 2012. Mas até 2022 esteve incluído em divisões de propina, junto aos outros dois, segundo a Comissão de ética da FIFA.
Por fim, Maria Marin está em prisão domiciliar nos EUA. Os outros dois nem podem sair do Brasil. A INTERPOL está na cola. Mas qual o fato novo? Eles são as forças ocultas. Essa semana vazou um áudio de Teixeira chamando Ednaldo de “nada” e fazendo críticas. Del Nero frequentemente compartilha memes e charges criticando o atual presidente, via whatsapp Como se sabe? Ele envia para presidentes de federações, que bloqueiam ele. Internamente, a CBF avalia, segundo informações de Lauro Jardim, que os dois atuam nesse momento nos bastidores da confederação para depor Rodrigues. Com isso, um dos membros do Conselho assumiria. Na vontade dos banidos, seria Rubinho, aquele mesmo já citado. Rubens disse que isso é paranoia da CBF, que não para de criar falsos fantasmas, ao invés de se preocupar com o que precisa, segundo nota enviada ao O Globo.
Assim é o jogo. Não há muitas regras. Um cacique só. Mas com muita gente para agradar. E se não corresponder a uma federação a casa cai. Nem toda caneta é pelo bem do futebol. A maioria das canetadas dos homens de colarinho branco é por sua manutenção no poder. Ninguém quer sair de cima da carne. Tanto que nem quem está banido sai de cena, por mais fora dela que se possa estar. Não pense que as críticas são pensando no bem do futebol. Política é política. O esporte não é uma bolha. Os interesses pessoais movem as peças desse tabuleiro. Desse modo, as canetas de plástico, cada vez mais, são mais decisivas que as dos pés dos craques. Eis o país do futebol.
Guilherme Presunto | @guilhermepresunto_
Que venham as mudanças necessárias para recuperarmos o nosso futebol !
Caraca presunto, feliz por seu progresso em textos cada vez mais incisivos… tomou a decisão e está bem clara ao caminho que está seguindo e está mostrando bastante, então… continue… fenômeno