No último domingo (14), o Real Madrid venceu a Supercopa da Espanha pela 13a vez em sua gloriosa história. Mas, apesar de o torneio ser feito para consagrar o super campeão espanhol, foram os brasileiros que assumiram o protagonismo de uma noite na Arabia. O time merengue superou seu maior rival com certa facilidade. Aos 10 minutos do primeiro tempo, o 2×0 já estava aberto. A equipe do Barcelona descontou, mas viu, em um pênalti polêmico, sua famosa água no chope. Na segunda etapa, ainda daria tempo de marcar mais uma vez. 4 × 1 e mais um troféu para a galeria de Ancelotti, que iguala Zidane em títulos no Real Madrid, 11 ao todo. Faltam 3 para se tornar o maior vencedor com a prancheta madridista. Porém, algo separa o comandante italiano do francês: um brasileiro. Vinicius Junior não “convenceu Zizou”, nas palavras do jornal AS. Com Carletto, ele é o protagonista, já decidindo inclusive uma final de Champions. Mais uma vez, na decisão mais recente, Vini foi o homem que mudou o jogo. Assim, em um ano de duros desafios para a Seleção Brasileira – Espanha, Inglaterra, México e Copa América, além das Eliminatórias – só podemos torcer para ter chegado a vez de Vini. A hora da estrela do maior time do mundo finalmente brilhar no lugar mais alto da maior seleção do mundo.
Em primeiro lugar, Vinicius sempre esteve acostumado com protagonismo, desde as divisões de base. Já, nas categorias de formação do Flamengo, mostrava-se com vocação para o estrelato, o menino. Sempre um passo à frente, a explosão de Vini foi um tanto quanto precoce, mas de um jeito bom, é claro. Quando tinha 13 anos, recebeu sua primeira convocação para a Seleção Sub-15. Rapidamente, tornou-se titular e o grande destaque no infantil. Em 2016, chegou ao juvenil e, mesmo longe do limite de idade determinado, era a figura central do projeto. Contudo, foi na Copinha que a fama veio e os olhares europeus também. O Barcelona fez uma oferta de 25 milhões de euros, mas o Real Madrid nem cogitava a possibilidade de perder o “novo Neymar”. Assim, a imprensa espanhola tratava o garoto na época. O jogador então se juntou ao profissional. 13 de maio de 2017, com apenas 16 anos, em um Maracanã lotado. Estreia modesta. Ele entrou na reta final do jogo após clamor das arquibancadas. Muita pressão e expectativa. Em agosto, marcou seu primeiro gol, até então o de um atleta mais jovem na história rubro-negra. Ao fim da primeira temporada, 37 jogos no ano, apenas cinco como titular, com uma assistência e quatro gols. 2018 chega, com ele a titularidade. No Equador, dois bonitos gols para dar a vitória contra Emelec na Libertadores. Ali, o Brasil olhou para ele e percebeu que não seria mais um. Marcou 10 gols e deu 4 assistências e, quando a nação se empolgava, ele foi embora. Em julho, apresentou-se ao Real. Do time mais popular da América do Sul ao grande time da Europa.
Ademais, Vini sempre esteve acostumado com a pressão. Soube lidar com a maior nação do futebol. Decidiu jogo de Libertadores. Decidiu com “d” maiúsculo. Literalmente, colocou o jogo no bolso. Ainda assim, foi criticado, zombado e humilhado por vários brasileiros que apostaram: “nunca vai vestir a camisa do Real Madrid”. Mas ele nunca ligou para isso. No mesmo mês, estreou com a camisa merengue. Em um jogo da Florida Cup, mostrou o suficiente para que a imprensa pedisse sua
integração em definitivo no grupo principal. Não foi tão fácil assim, no entanto, pleitear sua vaga. Afinal, não era tradição no Santiago Bernabéu promover garotos, apostar em meninos. O Barça fazia isso, o Real comprava jogadores prontos. Até por isso, Vini bateu vários recordes nesse sentido. Desde seu primeiro gol, foi assim. 3 de novembro, pelo campeonato espanhol. Ali se tornou o mais jovem jogador a marcar com a camisa do Real no século. Depois, no dia 13 de fevereiro de 2019, tornou-se o jogador mais jovem da história do Real Madrid a atuar como titular durante 12 partidas seguidas. No mesmo dia, tornou-se o mais jovem titular do Madrid na história da Champions. Na partida, deu uma assistência, a de um jogador mais jovem da história merengue, na sua competição predileta. Entretanto, passou por uma oscilação durante todo o período em que Zidane o treinou. Foi no meio de 2021 que sua vida mudou em Madrid. Com a chegada de Ancelotti, o Malvadeza explodiu. 30 participações em gols, em 35 jogos de La Liga. 11, em 13 partidas de Champions. 42 em 52 jogos. Na temporada seguinte, 44 em 55 jogos. Na atual, 13 em 16.
Desse modo, de todos os fantásticos números de Vini, os últimos 3 foram um jogo só, um tempo só, em uma final, em um El Clássico. Em 3 minutos marcou duas vezes, depois chamou a responsabilidade de um pênalti que abriu boa vantagem para o rival. Mas a realidade é que quem já marcou duas vezes não precisa correr o risco de virar vilão. Perder um pênalti e dar brecha a uma reação. Mas não bater seria a decisão de um coadjuvante e isso não combina com Vinicius. Nunca combinou. Por isso, ele marcou um Hat-trick. A propósito, Cristiano Ronaldo pode assistir da arquibancada Vini fazer o que ele nunca foi capaz de fazer. 3 gols no Barcelona em um só jogo. Assim, ele se tornou o primeiro a executar tal feito com a camisa do Real, desde 1995. Também, juntou-se a Romário em 1994 e Evaristo de Macedo, 1958, como os brasileiros que conseguiram, sendo ele o único do Real. Junta-se, assim, a uma lista composta por Messi, Puskas e Suárez.
Em suma, esse é Vinicius Jr. O garoto que decidiu a Champions. Dono do primeiro hat-trick do Real, em El Clássico, no século. Quantos craques vestiram essa camisa no período? Muitos, mas nenhum deles conseguiu. O atleta que fez pelo menos 20 gols e 20 assistências nas duas últimas temporadas. Nessa, as lesões te prejudicaram, mas ele tem quase participação por jogo. O jogador que nunca se escondeu no Flamengo, mesmo garoto e, que agora faz questão de mostrar o homem que se tornou no Real Madrid. Mas não é só seu talento que o faz diferente. Vini nunca se deslumbrou. Quantos meninos se perdem? Quantos desistem? Para Vini isso nem foi possibilidade. Ele une sua alegria, sua brasilidade, com uma rara seriedade e dedicação. Em um ano sem Neymar, Dorival já cantou a pedra: “precisamos nos virar sem ele”. Para nos virar, vamos ter que bailar. Assim que o Vini faz. Talvez ele não seja tão talentoso quanto o Ney, mas essa distância é menor que o comprometimento e disciplina do sucessor de CR7, o VJ7. Enfim, chegou a vez de Vini. Chegou a vez dele não ser substituído em jogo grande da seleção. Mas também chegou a vez dele ser no Brasil o que é no Real Madrid. Uma coisa leva a outra. Que ele nos leve ao hexa.
Guilherme Presunto | @guilhermepresunto