Hoje começo a bater bola semanalmente com vocês. Estreia é tão importante que devia ser a última coisa que a gente faz. Como, no caso, por definição, é a primeira, vamos abrir o jogo antes de Uruguai x Brasil, em Montevidéu.
Nossa primeira grande rivalidade. A que nos deu a América pela primeira vez, em 1919. A que nos tirou o mundo e o chão no Maracanazo de 1950.
Derrota que não tem como devolver a dor. Jamais terá. Mas que também nos deu saborosas vitórias. Como na semifinal de 1970, antes do tri contra a Itália.
Ou aqueles 2 a 0 que nos deram a classificação para o tetra, em 1993.
Romário ficou de quarentena da seleção, de dezembro de 1992 até aquele setembro de 1993. Até o treinador Carlos Alberto Parreira assumir que foi “Deus quem convocou” o Baixinho inquieto e indisciplinado. O que não aceitou um banco em amistoso contra a Alemanha. O que irritou mais Zagallo do que Parreira. O que levou Romário a ficar fora dos planos da seleção que não estava tão bem com outro craque – Careca, que preferiu deixar a concentração e pedir dispensa do escrete.
Evair e Viola eram ótimas opções. Mas não eram Romário. Aliás, só Ronaldo seria. Mas ainda não estava pronto, em 1993.
O Baixinho, sim. Para não dizer que nasceu preparado para aquilo.
Romário voltou nos braços do povo, na língua da mídia, e pelos deuses da bola ao Maracanã naquele calor de setembro.
O Brasil precisava de Romário e da vitória contra o Uruguai para se classificar para a Copa de 1994. O Baixinho não precisou de um minuto para dar drible desmoralizante contra um dos cinco zagueiros charruas. Ou seriam 10 mais o goleiro para conter Romário em sua mais magistral atuação pelo Brasil?
A melhor partida que vi em campo de um só gênio nos meus 33 anos de carreira. A honra que só o Maracanã para presenciar e presentear atuação tão perfeita. Com tudo que tem o jogo: drible, finta, ginga, manha, talento, físico, inteligência, presença de espírito.
E gol.
“Não quero jogar bem, quero fazer gol. Não quero ser craque. Quero ser artilheiro”. Sempre disse Romário. E naquela tarde disse e jogou tudo.
O mais espetacular é o que brincou. Ele ficava naquela de peixe fora de campo. Fingindo que não era com ele. E pelo menos duas vezes deu dois piques do nada só pra chamar a atenção de dois marcadores que saíam correndo a esmo.
Só para zoar. Tirar do sério. Desconcentrar. Atuação que me fez muitas vezes largar o jogo na cabine do Maraca só pra o ver brincando contra os uruguaios.
Era Romário. Basta.
O início de uma era que daria no tetra. Uma besta nada enjaulada.
Era que daria ouro e caneco na maior partida que vi na vida. E talvez o Maracanã não tenha visto igual atuação.
Nunca devolveremos o Maracanazo de 1950. Mas dificilmente alguém irá tirar esse jogo de Romário como a melhor partida de um gênio no maior do mundo que seria dele em 1994.
Amanhã a gente volta falando de outro grande clássico. E espero mesmo que seja. Com um craque que torço que nos leve como Romário em 1993.
Mauro Beting | @maurobetingoficial