O quanto a derrota para os Estados Unidos na final da Copa Ouro diz sobre a atuação do técnico Arthur Elias em seu primeiro campeonato à frente da seleção brasileira?
Claro que a torcida deseja uma vitória da seleção sobre aquelas consideradas a nossa pedra no sapato. Dos 31 confrontos contra as norte-americanas, apenas 3 resultaram em vitórias e 24 em derrotas – sendo duas delas em finais olímpicas. E o pacote se tornou mais doloroso pelo único gol da partida ter surgido em uma desorganização brasileira.
Então a atuação de Arthur Elias foi negativa? Não! Então foi maravilhosa? Calma! O futebol brasileiro tem a cultura do imediatismo, a necessidade de resultados rápidos e de vitórias consecutivas para a aprovação de técnicos. É como dividir um técnico em bom e ruim, craque ou medíocre, em um curto espaço de tempo. Tornando seus assentos uma verdadeira “batata quente”.
Entre os extremos existe o caminho do meio. Um caminho de construção, de testes, de resgatar nas jogadoras experientes a esperança, enquanto constrói nas novatas a maturidade e autoconfiança; estas últimas, cruciais nesta competição.
Arthur Elias demonstrou maturidade em suas convocações ao selecionar novas jogadoras, como Aline Gomes (Ferroviária), Tarciane (Corinthians) e a meia Vitória Yaya (São Paulo), deixando de fora nomes tidos como “certos”, como Marta (Orlando), Cristiane (Flamengo) e Thamires (Corinthians).
Sem se intimidar diante das críticas, essa maturidade em acreditar no próprio trabalho e confiar na capacidade das atletas, resultou em seis jogos, com seis escalações diferentes, sendo 5 vitórias, 15 gols marcados e apenas um sofrido na fase de grupos. Nestes novos testes, jogadoras como Gabi Portilho (Corinthians) e a estreante na seleção, Duda Santos (Ferroviária), ganharam destaque.
Mas não podemos esquecer que a camisa pesa, e quando a maturidade se une à experiência, torna-se uma fórmula difícil de falhar. Twila Kilgore, técnica dos Estados Unidos, optou por essa dobradinha, escalando Alex Morgan e Rose Lavelle como titulares. E, apesar da pouca criação, os Estados Unidos foram quem balançou a rede.
Com a necessidade de reverter o placar, acirraram-se os ânimos e o jogo mental fala mais alto. A seleção teve dificuldades neste ponto, resultando em um segundo tempo de desorganização, afoitamento e dificuldades desde a criação à finalização.
Portanto, se buscarmos uma conclusão para este campeonato, acredito que “estamos diante de um desafio positivo”, é o mais coerente. Nossa seleção está percorrendo o caminho do meio, com Arthur Elias equilibrando conceitos técnicos com a essência brasileira de jogar bola e inúmeras opções de jogadoras habilidosas e engajadas para compor este elenco; porém, o desafio está na construção da mentalidade confiante e madura.
Por Carol Cherulli