Colunistas, Guilherme Presunto

Procura-se um 9?

Nesta semana, a seleção brasileira irá disputar sua terceira data FIFA, válida pelas eliminatórias. Nessa, irá disputar quinta e sexta rodada, contra Colômbia e Argentina, respectivamente. O detalhe é que na edição corrente das qualificatórias, nenhum “camisa 9” marcou pela Canarinho. Apesar disso não ser nenhuma novidade, devido ao baixíssimo rendimento dos atletas da posição nas últimas três Copas do Mundo, fica uma reflexão. Será que não produzimos mais centroavantes de qualidade? Ou é só questão de procurar um pouco mais?

A Seleção Brasileira vive uma seca, que completará, no mínimo, 24 anos sem Copa, como foi também de 70 a 94. E o fato é que não temos chegado nem perto. A ausência de craques para dividir o protagonismo com Neymar talvez possa ser um dos principais motivos. Mas, o futebol nem sempre é tão exigente. Gênios extraordinários, para construir as jogadas, seria ótimo se tivéssemos. Porém, o que se sente mais falta é aquela peça que determina, da forma mais objetiva, se um time é vencedor ou não. O tal do homem gol. Fazendo uma pequena viagem no tempo, olhamos para as Copas de 58 e 62. Nessas, muito se fala de Didi e Garrincha, eleitos craques da competição. E do Rei, claro, que, em especial na primeira, jogou uma barbaridade, ainda garoto. Mas pouco se fala de Vavá, o quinto maior artilheiro do Brasil, em copas. Foi o vice(brasileiro), atrás de Pelé em 58 e, em 62, o máximo goleador(geral), ao lado do anjo das pernas tortas. 9 gols, nas duas participações. Na Copa de 70, um furacão. O melhor que se pode esperar de um artilheiro. Jairzinho marcou em todos os jogos do torneio. 24 anos se passaram e Romário, apesar de não vestir, era nosso Camisa 9. A verdade, é que para sermos justos, é mister que se volte a setembro de 1993, quando o baixinho marcou duas vezes contra o Uruguai e garantiu, na rodada final, nosso passaporte para os Estados Unidos. Lá, marcou 5 vezes e fez uma das maiores atuações individuais da história do Mundial. O que eu escuto em minha casa, é que desde Garrincha, em 62, um só atleta não era tão dono de uma taça. Por fim, o penta. Simplesmente o vice-artilheiro da história das Copas. Ronaldo marcou 8 gols, incluindo dois na final. Ele só está atrás de Ademir de Menezes em gols em uma edição, pelo Brasil. Menção honrosa ao homem que marcou 9 gols na traumática Copa de 50. O Fenômeno marcou mais 3 vezes em 2006. O máximo que um Camisa 9 marcou desde o penta. Luis Fabiano repetiu em 2010 e Richarlison em 2022.

Assim, vamos nos aproximando do hoje. Até a Copa do mundo do Catar, Tite convocou Gabriel Jesus, Gabigol, Gabriel Martinell, Matheus Cunha, Roberto Firmino e Pedro durante o ciclo. Gabigol e Pedro foram destaques absolutos na América do Sul. A propósito, nenhum brasileiro no mundo marcou mais vezes que Gabi de 2019 a 2022. Pedro reinou no ano da competição. Um 2022 extraordinário. Mas entra o tal do nível de enfrentamento. Grande parte da opinião pública considera os jogadores que atuam no Brasil, não possuem condições de atuar na seleção “europeia” brasileira. Por isso, só um deles foi e teve poucas oportunidades. Jesus é o camisa 9 com mais jogos de Copa do mundo sem marcar nenhum gol. 8 partidas, 0 bolas na rede. Ademais, não foi a meta durante as eliminatórias de 22 também. Mas chegava para a Copa de grande temporada pelo Arsenal. O extremo oposto é Richarlison. Marcou 6 vezes, no período qualificatório. Mas chegou muito mal. Eleito a pior contratação do futebol inglês no ano, e uma das piores na Europa, tinha marcado dois gols até a Copa. Depois marcou 1. Assim, tem 3 gols com a camisa do Tottenham. Matheus Cunha tem 13 gols nos seus últimos 100 jogos. Firmino é um caso à parte. O atacante é um dos brasileiros mais bem sucedidos no futebol europeu nos últimos 5 anos. Tem 17 gols e assistências com a camisa da seleção. Mas no Liverpool nunca foi 9 de área mesmo. Configurou por vezes um Camisa 10. Eu, particularmente, sou fã. Mas ele nunca caiu nas graças do torcedor. E, assim, não chegou a completar 90 minutos jogados em Copas. Por fim, Martinelli. Ele não é precisamente um 9. Está mais para ponta esquerda, mas pode fazer a posição. Nos Gunners, ele e Jesus variam durante o jogo. Teve poucas oportunidades, até pela idade, mas certamente é um nome para o futuro.

Agora, falando em futuro, o que pensar do próximo ciclo? O primeiro fato é que dos “9” convocados no último ciclo, apenas Pedro e Firmino não receberam oportunidades com Diniz. Entretanto, o centroavante do Flamengo vem se recuperando e pode se tornar uma opção em breve. Ponto positivo dessas primeiras convocações é fim da insistência em Richarlison e Matheus Cunha, jogadores que vêm performando em nível muito baixo, faz tempo. Depois de duas convocações, ficaram de fora. Não há como encontrar algo novo, procurando nos mesmos lugares. É hora de renovação. E Endrick convocado é um sinal para o sucesso. Uma esperança de novos dias. O terceiro jogador mais jovem a ser convocado tem sido decisivo, pelo Palmeiras, no Brasileirão. Inclusive, desde Ronaldo, não se apostava em um atleta de 17 anos. E ele faz parte de um trio em que se coloca muita esperança. Ao seu lado está Vitor Roque. O garoto do Athletico provavelmente já teria tido sua chance. Mas está lesionado. O menino já tem destino previsto. Irá para o Barcelona. Imagina o quão incrível será ter o 9 do Barcelona e o do Real Madrid a sua disposição. Suarez, Kane, Ibrahimovic, Halland, Cavani, Benzema. Os últimos grandes jogadores da posição não são nossos. Olho para esses moleques e vejo isso. Ainda não podemos esquecer do Marcos Leonardo. O menino da Vila é extraordinário e tem um perfil diferente dos demais. Atacante à moda antiga. Saindo desses garotos, que serão craques, na minha visão, ainda temos os atacantes mais comuns, mas que são uma realidade na Europa. Destaca-se Arthur Cabral, jogador que marcou 65 gols, em 3 temporadas no Basel. Foi para a Fiorentina, marcou 19 gols e levou o time à final da Conference League na temporada passada, além de artilheiro disparado do time na Calcio. Desempenho que fez o Benfica investir 20 milhões de euros, mais 5 variáveis. Aos 25 anos, tem muita lenha para queimar. Evanilson, de 24 anos, é outro que se destaca em Portugal. Na atual temporada é o brasileiro com mais gols na Champions e foi eleito o craque da terceira rodada. Possui, ainda, praticamente, uma participação em gol por jogo. Na temporada passada já teve mais de uma a cada dois jogos.

Em suma, há um motivo para essa coluna ter uma interrogação. Não é uma afirmação. A pergunta é clara. Realmente se procura um Camisa 9? Estão tentando encontrar mesmo? Ou só tentam repetidamente as mesmas soluções que nunca dão em nada. Nem sempre precisa ser um craque. Luis Fabiano nunca foi e fez uma Copa digníssima em 2010. Há garotos fantásticos surgindo. Os velhos conhecidos. Os caras do futebol brasileiro. Os subestimados pela Europa. Os nomes estão lançados. Quem quiser, procure.

Guilherme Presunto

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One thought on “Procura-se um 9?

  1. Renan Carvalho de Farias says:

    Disse tudo. Material humano tem, mas estão insistindo nos mesmos.

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