Na última quinta-feira(21) o Vasco da Gama voltou a receber sua torcida no Estádio
de São Januário. O time superou o Coritiba pelo placar de 5×1. O Gigante da Colina não
vencia por quatro gols de diferença, em uma partida de primeira divisão, desde 2011. Porém,
apesar do grande feito do time, não veio das quatro linhas a maior vitória. Foram mais de 90
dias sem receber um jogo na Colina histórica. O jogo representa uma superação, ainda que
incompleta, mas suficiente, em primeira análise, do preconceito. Todavia, não é nenhuma
novidade para o Vasco precisar dar respostas aos elitismos. A própria construção do estádio
diz respeito a isso. Dos 685 contos e 895 mil réis para comprar o terreno e os 2 mil contos
para a obra, nascia o templo sagrado cruzmaltino. Dinheiro esse de seu próprio povo. Nascia
assim, pelas mãos operárias, o maior estádio do mundo, até 1930. E assim, o time do povo
atendia as exigências para disputar o Campeonato Carioca.
Quem diria, que 100 anos depois, o Vasco seria novamente impedido de disputar uma
competição, com plena equidade. Os motivos? Rigorosamente os mesmos de outrora. “O
complexo é cercado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde houve comumente
estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas”. É indubitável, que o
trecho da decisão do Juiz Marcelo Rubioli, do Ministério Público, aponta para o preconceito.
Desde o puro elitismo, passando por uma visão racista até a consolidação de um discurso
embasado no mito das classes perigosas. Todos esses assuntos poderiam render textos longos
e complexos, mas aqui apenas são a base para a história recente, envolvendo o Estádio de São
Januário. A Justiça institui que os moradores da favela representam um perigo para a
sociedade. Visão essa, compartilhada com o que boa parcela da nossa sociedade enxerga.
Sim, o crime organizado tem influência contundente sobre a região. Mas hoje, já é possível
traçar o mapa nacional, com o poder paralelo estabelecido em cada área. Contudo, é a
minoria da população. A maior parcela trabalha e, inclusive, depende da abertura do estádio,
para sua subsistência. Barraqueiros, donos de bar, ambulantes no geral. No dia de jogo está o
mês daqueles homens e mulheres.
É fundamental que se entenda São Januário como o que ele, de fato, é. Antes de
pensarmos na arena. No local que recebia os comícios populistas de Vargas. Na avenida que
se abriu para as escolas de samba, muito antes do Sambódromo pensar em existir. Ou mesmo,
no lugar que viu um gigante conquistar a América no ano de seu centenário. Pense em uma
igrejinha de uma cidade pequena. Financeiramente, ela vai ser erguida a partir do amor das
pessoas que dividem aquela fé. Geograficamente, estará no centro da cidade. E o resto da
urbanização da cidadela será feita ao seu redor. Tudo gira em torno dela. Assim é a legítima
casa do povo. Fechar um templo sagrado é matar uma torcida de sede. Sede daquilo que só a
fonte da fé pode lhe dar. Do que só o ‘’Vascaismo’’ oferece. Algo que não permite que o
sentimento ouse parar. E que se sustenta na pequenez de cada exclusivo e único coração
infantil, independente de seu gigantismo.
Enfim, o gigante está de pé, graças a seu povo. O Vasco foi erguido por mãos
acostumadas a serem desvalorizadas. Por vozes silenciadas. E por isso a luta sempre há de
continuar. Assim como em 1927, ele precisa atender bem mais requisitos que os outros
estádios. Algo superado por quem tem vocação para a grandeza. A vitória do Vasco sempre
foi a vitória do povo. E assim continua. O 5×1 fala bem menos que o quanto as famílias da
Barreira vão se recuperar esse mês, após 90 dias, violadas pela justiça. E assim o cruzmaltino
gosta de fazer sua história. 3 pontos em campo, muitos mais fora dele. 25 mil sorrindo dentro
do estádio. 16 mil fora dele. Não era necessário. Muito menos comum nas andanças da
humanidade. Mas o povo reconquistou o seu próprio castelo.
Guilherme Presunto | @guilhermepresunto_
Ótimo texto 👏🏼👏🏼👏🏼
🙏🙏🙏
Boa presinto
Vamos!
Só me orgulha esse presunto lindo
Arrasou presunto, dos melhores que li aqui.
Sensacional, parabéns pelo texto impecável!