Provavelmente você não deve se lembrar, mas o “primo” do lendário George Weah, eleito melhor jogador do mundo pela FIFA em 1995, também mostrou todo seu charme no campeonato mais competitivo do planeta. Não se lembra dele? Não tem problema, a trajetória de Dia é mais curta do que muitos imaginam.
Ali quem?
Em novembro de 1996, a Premier League presenciaria um dos momentos mais inusitados da história do futebol, e olha que o mundo da bola possui muitas histórias malucas. Tudo isso começou com um simples telefonema.
Acontece que quem atendeu a ligação não foi qualquer pessoa, mas sim o lendário treinador Graeme Souness, que havia feito grande sucesso no Rangers, da Escócia; e no poderosíssimo Liverpool. Além dos Reds, ele também comandou o Newcastle e o Blackburn na Inglaterra, mas foi com o Southampton que tudo isso aconteceu.
Voltando ao assunto, do outro lado da linha, pelo menos foi isso que Souness pensava, estava o liberiano George Weah, que tentava cavar uma vaguinha para seu primo, um craque a ser descoberto que, segundo Weah, havia marcado dois gols na última vitória da seleção de Senegal nas Eliminatórias africanas, como relembra matéria da ESPN. Graeme não pensou duas vezes e de imediato pediu a contratação de Ali Dia. “Ele jogou com Weah no PSG e estava na segunda divisão alemã. Vamos dar uma olhada nele”, disse o treinador no dia da apresentação da ‘futura promessa’.
Acontece que Dia não era primo de Weah e muito menos jogador de futebol. Estudante de economia, ele sonha em jogar ao menos uma partida da Premier League. Assim, um de seus amigos resolveu usar todo seu poder de imitação e passou um trote para Souness e, surpreendentemente, a mentira colou.
Naquela época, os Saints sofriam com as intensas lesões de seus jogadores de ataque e um reforço não seria nada mal. O que eles não sabiam é que Dia era um boleiro de pelada, que só jogava aos finais de semana. O mais perto que ele conseguiu do sucesso futebolístico foi atuar em equipes amadoras da França e semiamadoras da Inglaterra.
Os 53 minutos
Já na rotina dentro do Southampton, Dia chegou a participar de alguns treinos, mas nada que causasse uma boa impressão. No entanto, como diz aquela frase que muitos atribuem a Ênio de Andrade: “O problema de ter um jogador ruim no elenco é que uma hora ele acaba jogando.” E foi assim que os deuses do futebol resolveram agir com Ali.
Em certa ocasião, ele havia sido escalado para uma partida contra o Arsenal. Entretanto, aquela que seria uma partida dos Saints com seu time reserva acabou não acontecendo, já que uma chuvarada acabou alagando o campo e o jogo teve de ser cancelado, conforme relata matéria da ESPN.
No confronto seguinte, contra o tradicional Leeds United, porém, Ali Dia acabou sendo convocado, mas começou a partida no banco. Só que, aos 32 minutos da primeira etapa, Matt Le Tissier, um dos maiores ídolos da história do Southampton, acabou se lesionando. Havia chegado a hora de Ali Dia jogar. Como podem imaginar, a palavra que descreveu sua performance não poderia ser outra além de ‘trágica’. Para se ter uma ideia de como foram seus momentos em campo, ele nem mesmo terminou a partida, sendo substituído aos 40 minutos do segundo tempo por Ken Monkou.
A trajetória de Ali na Premier League durou exatos 53 minutos. Como se não bastasse a decepção de Souness, tudo ficou ainda pior já que sua equipe foi derrotada por 2×0.
Não era ‘jogador’, era cilada
“Aquilo foi inacreditável. Ele parecia o Bambi correndo no gelo. Foi extremamente vergonhoso de assistir. Foi uma situação bastante bizarra”, declarou Le Tissier anos depois, em um documentário sobre o futebol inglês, segundo relata a ESPN.
“No dia seguinte [ao jogo] fui ao clube para tratar minha lesão e o encontrei por lá, também no departamento médico, já que ele disse que havia se machucado na partida. Depois, ele nunca mais foi visto”. O treinador só descobriu a cilada em que se meteu após ligar para o verdadeiro George Weah e ouvir de sua voz que ele não sabia de nada do que aconteceu. Mesmo assim, Ali Dia apareceu mais uma vez.
Em entrevista à Sky Sport, dias depois, ele manteve a mentira e afirmou que era um ótimo jogador, mas que ainda precisava se adaptar. “O técnico me disse que George ligou para ele e disse que sou um bom jogador. Não tenho medo de dizer que sou um bom jogador. Eu posso e vou provar isso”, declarou.
Porém, ele não teve nem mais uns minutinhos de acréscimo para mostrar isso, já que jamais voltou a pisar nos gramados. Além disso, como aponta a ESPN, pouco depois descobriu-se que Dia tinha 31 anos e não 22 como fora informado. Ali Dia, ou o “primo de Weah”, depende de quem pergunta, foi dispensado depois de duas semanas de Southampton, encerrando sua meteórica carreira no ano seguinte, depois de ser contratado pelo time semiamador do Gateshead, onde marcou dois gols em oito partidas, segundo seus relatos.
Anos depois, o Bleacher Report conseguiu encontrá-lo para uma entrevista. Vivendo em Londres, ele criticou a imprensa local por difamá-lo e ainda revelou que só contou sobre sua jornada para seus familiares dias antes, devido à equipe de reportagem que estava atrás dele. “Eles [a imprensa] me retrataram como um mentiroso, e isso não é verdade. Eu joguei pelo Paris Saint-Germain, na segunda divisão, de 1986 a 1988. E eu ajudei a ganhar a Copa de Paris, em 1986 ou 1987… Já faz um tempo”, afirmou.
Sobre sua passagem pelos Saints, ele até que tentou se explicar.
Josimar Jefferson ( Mazin Owen) | @mazinowen